Ialorixá acusa Samuel Carvalho de intolerância religiosa: “Me senti completamente rejeitada”

A ialorixá Mãe Silvia acusa o prefeito de Nossa Senhora do Socorro, Samuel Carvalho, de ter praticado intolerância religiosa durante solenidade em homenagem dos dias mulheres, realizada no último dia 13, na Câmara de Vereadores do município. Mãe Silvia concedeu entrevista ao Jornal da Fan desta sexta-feira, 21, e relatou os detalhes do ocorrido.

Segundo a ela, quando o prefeito chegou ao local da solenidade, que aconteceu no último dia 13 de março, ele cumprimentou a todas as mulheres homenageadas, exceto à Mãe Silvia, que estava vestida de acordo com as representações das religiões de matrizes africanas.

” Eu me visto como eu devo e quero me vestir, então se eu sou uma iyá, eu vou caracterizar-me como uma mulher de axé. E aí, fui com as minhas filhas, mas a única que estava com o toso na cabeça era eu. E o prefeito chegou e saiu cumprimentando todas, e quando chegou perto de mim, ele pulou, ele nem olhou para mim, isso para mim foi muito doloroso, eu me senti extremamente triste em casa, porque era uma mulher que estava ali, era uma mulher de axé, era uma mulher de trabalho, de um serviço muito grande dentro de socorro social. Então assim, eu me senti completamente rejeitada”, relata.

Mãe Silvia conta que nem soube como reagir na situação. “Eu fiquei paralisada. Ainda bem que ele saiu logo e eu fiquei paralisada. Eu até me manifestei para ver se ele me observava, mas não. Ele observou a minha filha que estava ao lado, cumprimentou ela, mas a mim não”.

Na entrevista, ela questionou o porquê Samuel Carvalho teria praticado a ação. ” Não estou bem, até agora eu ainda estou descontrolada emocionalmente, porque somos humanos, somos filhos, irmãos, somos filhos em paz, só, entendeu? Então, para quem? Para a discriminação. Então, eu como mulher de axé, eu como iyá, vou continuar lutando, vou até o fim, vou brigar pelos meus e pelo e por mim”, afirmou.

A ialorixá de 62 anos disse nunca ter passado por outra situação e já está tomando medidas cabíveis sobre o caso.

“A gente ontem fez boletim de ocorrência, né, agora está na mão da autoridade policial, para que tome as medidas cabíveis, né? Existe uma lei específica que trata sobre essa temática. Samuel Carvalho é um advogado, não adianta vir sua bancada dizer que foi uma descortesia. A descortesia também é um ato de preconceito, de discriminação, né, e o racismo religioso é muito claro, né, a gente tem uma lei específica que é 14.532, no seu artigo 20, a salva o engano, ele fala claramente sobre a conduta do racismo religioso. Esta lei institui o racismo religioso no país, né, então a vertente política dele, a vertente religiosa dele não pode rechaçar o outro, ele é o representante, inclusive da segunda maior população do estado, o segundo maior colégio eleitoral. Então, como é que ele rejeita pessoas por conta da sua condição de cor, de raça, de religião? Ele representa todo o povo”, expressou o advogado do caso Dr. Josefhe Barreto.

A Comissão de Liberdade Religiosa da OAB e Comissão de Direitos Humanos da OAB estão acompanhando a denúncia . ” Esse é um tema que exige nossa atenção e uma atuação firme porque atinge diretamente a dignidade da pessoa humana e o direito fundamental de liberdade de crença e de culto. Nossa sociedade sergipana é diversa e plural e o papel das instituições, da imprensa e de toda a sociedade civil é de combater qualquer forma de discriminação. Quando o caso de intolerância acontece, ele feri não só a vítima, mas todos nós. Enquanto sociedade democrática. Então, como Comissão de Direitos Humanos, estamos comprometidos com a defesa intransigente desses direitos e com a promoção de uma cultura de respeito”, disse o presidente da Comissão de Direitos Humanos, Carlos Cézar Zuzarte.

A ialorixá Mãe Silvia pede respeito, mas também justiça pelo ocorrido. ” Eu espero que a consciência dele melhore, a alma dele, e que ele saiba respeitar a todos, seja lá qual religião for, mas que realmente seja respondido à sociedade sergipana e a todo o povo do Axé, que a a gente existe e que nós temos sim que brigar pelos nossos direitos e que nós temos sim que ser respeitados”, reforçou.

Samuel Carvalho teve espaço concedido no Jornal da Fan, mas preferiu se posicionar sobre o caso por meio de nota, enviada pela assessoria. Confira na íntegra:

NOTA À IMPRENSA

O prefeito Samuel Carvalho reafirma seu compromisso inabalável com o respeito, a diversidade e a liberdade religiosa, lamentando profundamente a acusação injusta de intolerância religiosa.

O episódio citado ocorreu no dia 13 de março, durante uma sessão especial na Câmara Municipal de Vereadores. Devido à grande lotação do espaço e ao tempo limitado de sua presença no local, infelizmente, não foi possível cumprimentar todas as pessoas individualmente. Em nenhum momento houve qualquer atitude motivada por intolerância ou preconceito religioso.

Ao longo de sua trajetória pública, Samuel Carvalho sempre se posicionou de forma firme contra qualquer tipo de discriminação. Quando deputado estadual, foi um dos autores do Projeto de Lei que deu origem à Lei Estadual nº 9.404, instituindo a campanha de Combate ao Racismo Religioso e à Intolerância Religiosa em Sergipe.

Como gestor municipal, mantém essa mesma postura de respeito e diálogo. Em janeiro, a Prefeitura de Nossa Senhora do Socorro promoveu uma reunião com representantes de terreiros para fortalecer o enfrentamento à intolerância religiosa, um compromisso que seguirá durante toda sua gestão.

Além disso, a administração municipal reconhece e valoriza aqueles que contribuem para a preservação da cultura e das tradições afro-brasileiras. A denunciante, inclusive, foi uma das sete personalidades selecionadas para serem homenageadas na tradicional cerimônia de lavagem das escadarias, no dia 2 de fevereiro. No entanto, não compareceu ao evento.

O prefeito reforça sua disposição para o diálogo e reitera seu compromisso com a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e respeitosa com todas as crenças.



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