“Estar cuidando do tesouro dos outros me fez entender que o meu também precisa de amor incondicional”. A fala de Monique Daniela, mãe e enfermeira, ajuda a ilustrar uma reflexão sobre a influência de profissionais envolvidos em partos para o nascimento de novas vidas e da jornada da maternidade.
Neste Dia das Mães, o Portal Fan F1 te conduz pela perspectiva de mulheres que enxergam a maternidade em sua complexidade e valorizam a humanização do processo de nascimento como essencial para a formação de adultos saudáveis.
Responsabilidade social
Monique Daniela, atualmente coordenadora da unidade neonatal da Maternidade Lourdes Nogueira, no bairro 17 de março, em Aracaju, já atua na área há 18 anos, mas foi há 13, quando se tornou mãe, que acentuou sua visão de que o tratamento fornecido para a paciente e seu bebê poderia ser uma ferramenta de transformação na sociedade.

“Eu sempre entendi como uma oportunidade de ter a responsabilidade de aliar uma competência técnica muito apurada com uma condição de humanização também. É olhar para o bebê não só como ele individualizado, como em conjunto com sua família, com sua mãe, e eu sei que isso é uma transformação da sociedade. Esse propósito chegou pra mim como uma responsabilidade social, eu tinha que me tornar uma uma profissional competente tecnicamente, conhecedora de questões científicas e humanas”, disse ela.
Monique explica que a chegada do filho suscitou mudanças de rotina, como acontece na vida de várias mães e pessoas com filhos, entre as diversas configurações familiares. A mais importante, em suas palavras, aconteceu no âmbito da educação, para que o filho pudesse entender a responsabilidade da profissão da mãe, ao mesmo tempo em que se sentisse amado e acolhido por ela.

“Estar cuidando do tesouro dos outros me fez entender que o meu também precisa de amor incondicional. Eu sempre expliquei a ele o que é trabalhar em prol do SUS, em prol de quem precisa, e como aqueles bebês precisavam muito que eu estivesse ali naquele momento. Eu acho que eu plantei a sementinha e ele entende a questão da responsabilidade da minha profissão”, completou.
A mãe como protagonista
A enfermeira obstetra Emanuelle Moura, também viveu todo o contexto da saúde materna durante sua formação. Ela coordena hoje a urgência do Centro de Parto Normal (CTN) da Maternidade Municipal Lourdes Nogueira, na capital.

“A mãe é uma figura muito importante, e a gente respeita muito, ela é a protagonista desse trabalho de parto, e a gente sempre está incentivando isso. Quando a paciente tem um plano de parto, a gente acolhe para que realmente seja respeitado, e as escolhas dela sejam feitas da forma como ela idealizou e desejou. A gente respeita esse momento de protagonismo mesmo da mulher se tornar mãe. A maioria da equipe é feminina, são muitas mulheres, mães, e a gente está sempre cuidando disso para que realmente esse momento seja positivo e importante como deve ser”, explicou Emanuelle.
Olhar humanizado para a mãe
Ainda com o objetivo de fornecer uma assistência respeitosa, surgiu a Associação Sergipana de Doulas em 2016, que atualmente conta com o trabalho de 42 mulheres. Para Neuraci Gonçalves, presidente da associação, o objetivo é criar uma rede de apoio para a mãe e sua família.

“A doula é uma profissional que oferece suporte informativo, ela prepara essa futura mãe para a vivência dos ciclos de gravidez, do puerperal e da maternidade através de orientações, sempre baseadas em evidências do que que é melhor. Ela orienta em termos do que é considerado hoje uma boa prática do pré-natal, do parto e dos cuidados com o recém-nascido. Ela faz o que a gente chama de uma educação perinatal, ajuda a pessoa grávida a se imaginar, a se perceber nesse processo e a criar uma estrutura que facilite a vida dela”, detalhou Neuraci.
A presidente da associação aponta que a doula não é uma profissão técnica da área de saúde, e por isso, o olhar é direcionado para o quadro emocional da mãe e seu bebê.
“Tem doulas que são mães, uma boa parte, mas a gente tem muitas doulas que não são mães. Geralmente as pessoas buscam se tornar doulas por conta de uma experiência de violência pessoal durante um parto que a pessoa vivenciou ou soube, ou também porque quando essa pessoa estava grávida ela estudou e viu a importância daquela assistência, teve aquela assistência e quis também trabalhar com isso”, disse ela.

Neuraci aponta que o trabalho da doula tem um caráter preventivo, de respeito ao que foi idealizado pela mãe antes do parto para que a experiência seja positiva e evite traumas à parte envolvida.

“O que a gente faz é pensando no nascer. Tem um médico que eu gosto muito que diz que se doula fosse remédio seria antiético não dar. Tem um outro que fala que pra gente mudar o mundo precisa mudar a forma de nascer, e é isso que a gente pensa”, finalizou.